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NICETTE BRUNO: não há grande atriz que não resida em uma grande pessoa

 

Nicette Bruno

Nicette Bruno tinha apenas quatro anos, e já declamava e cantava em programas infantil de rádio. Aos cinco, começou a estudar piano, no Conservatório Nacional, e a se apresentar como pianista e, aos seis, ingressou no balé do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Aos onze, entrou para o grupo de teatro da  ACM (Associação Cristã de Moços), passando, em seguida, pelo Teatro Universitário de Jerusa Camões, e pelo famoso Teatro do Estudante, dirigido por Pascoal Carlos Magno e Maria Jacintha. Aos quatorze anos, foi contratada pela Companhia Dulcina-Odilon, de Dulcina de Moraes. E, aos quinze, torna-se protagonista, em Anjo Negro, texto escrito para ela por Nelson Rodrigues 

Com apenas dezessete anos, fundou o Teatro de Alumínio, na Praça das Bandeiras, São Paulo, onde também criou, três anos depois, a Companhia do Teatro Íntimo de Nicette Bruno, inaugurada com a peça Ingênua Até Certo Ponto, de Hugh Herbert, dirigida por Armando Couto. Em 1958, foi premiada por sua atuação em Pedro Mico, de Antônio Callado. Durante as décadas de 1950 e 1960, integrou praticamente todas as principais companhias de teatro do país.

Em 1952, aos dezenove anos de idade, Nicette conheceu Paulo Goulart, nos ensaios da peça Senhorita Minha Mãe, de Louis Verneuil, com quem veio a se casar, a 26 de fevereiro de 1954, numa sexta-feira, véspera de Carnaval, na Igreja de Santa Cecília, em São Paulo, seu parceiro em tudo e por tudo, e eterno namorado, durante 60 anos. Paulão e Nini - como eram chamados pelos que, como eu, tiveram o privilégio de gozar de sua amizade - tiveram três filhos: Bárbara Bruno, Beth Goulart e Paulo Goulart Filho, que também seguiram a carreira artística. 

Em 1962, Nicette e Paulo, foram para Curitiba, a convite de Claudio Corrêa e Castro, onde trabalharam no Teatro Guaíra, lecionando Artes Cênicas no projeto Curso Permanente de Teatro, que fazia parte do Teatro de Comédia do Paraná (TCP), para o qual produziram as montagens de Um Elefante no Caos (Millôr Fernandes), A Megera Domada (William Shakespeare) e O Santo Milagroso (Lauro César Muniz).

Entrou para a TV em 1959, interpretando a personagem-título do seriado ao vivo Em Busca da Felicidade,  na TV Continental. Sua primeira telenovela foi Os Fantoches (1967), de Ivani Ribeiro, na TV Excelsior, onde participou de outros sucessos como Sangue do Meu Sangue. Na mesma década ingressou na TV Tupi, onde atuou com destaque nas telenovelas A Muralha, A Gordinha, Meu Pé de Laranja Lima, Rosa dos Ventos, Papai Coração, Éramos Seis e Como Salvar Meu Casamento. Em 1982, após a falência da Tupi, transferir-se para a Rede Globo, onde Paulo Goulart já trabalhava, atuando em Sétimo Sentido, Louco Amor, Meu Destino É Pecar, Tenda dos Milagres, Bebê a Bordo, Rainha da Sucata, Mulheres de Areia, Labirinto, Andando Nas Nuvens, Aquarela do Brasil, O Amor Está no Ar, Sítio do Picapau Amarelo, Alma Gêmea, O Profeta, Sete Pecados, Ti Ti Ti, A Vida da Gente, Salve Jorge, Joia Rara, I Love Paraisópolis, Pega Pega, Órfãos da Terra, além de uma especialíssima participação na terceira versão de Éramos Seis, dentre outras, em produtos como  Malhação, As Brasileiras, Brava Gente, etc. 

No cinema, fez Querida Susana (1947), Canto da Saudade (1952), Esquina da Ilusão (1953), A Marcha (1972), Vila Isabel (1998), Zoando na TV (1999), Seja o Que Deus Quiser (2002), A Guerra dos Rocha (2008), A Casa das Horas (2010) e Doidas e Santas (2016).

Nos conhecemos em 1999, quando fui à São Paulo assistir ao espetáculo Somos Irmãs, um musical sobre a vida de Linda e Dircinha Batista, convidada pela diretora Cininha de Paula, com quem eu começava uma relação de trabalho, à época. Nicette interpretava Dircinha, diga-se de passagem, de forma extraordinária. Mas estreitamos nossos laços de amizade a partir de 2002, quando trabalhamos juntas no Sítio do Picapau Amarelo, no qual ela era Dona benta, e eu, a Instrutora de Dramaturgia do projeto. Depois, nos reencontramos profissionalmente no palco, em 2015, no espetáculo Tributo a Antonio Abujamra, homenagem prestada pela Companhia Os Fodidos Privilegiados ao seu idealizador-fundador e eterno mestre. 

Ter convivido com Nicette foi uma honra e um grande aprendizado, não somente no que se refere à profissão de ator/atriz, mas sobre VIDA como um todo, os relacionamentos humanos, o respeito à dignidade humana, à alegria de viver, a responsabilidade, a disciplina, o AMOR.

Ela nos deixa um importante legado cultural e Humano. Façamos bom uso dele!!!


Valeu, Nini!!!  As boas lembranças valerão a doída saudade!


O casal Paulo Goulart e Nicette Bruno







     

Comentários

  1. Poxa, fui no instagram pra ler seu blog que nunca mais consegui ler aí vi que não estava te seguindo (como não? pensei que estivesse sim... rsrsrs... Bem, agora estou de fato). Aí venho aqui e vejo que sua última postagem foi justamente sobre a Dona Nicette. Não tenho nem palavras para descrever o que Dona Nicette representava para mim... Meu Deus! Só amor e gratidão. Sou amigo da Vanessa, do Paulinho e estive várias vezes com eles reunidos na casa dela. Um anjo em forma de gente! E quanta história... Várias dessas ela mesma nos contou. Sem dúvidas uma grande mulher e um belíssimo casal.

    Ademais, estou por aqui... com muitas saudades de você e contando os dias para tudo isso passar logo!

    Beijo Grande!

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