Pular para o conteúdo principal

AN(DRÉA BELTRÃO)TÍGONA E O PLATÃO DA LAPA

Andréa Beltrão em "Antígona"; Teatro Poeirinha - Rio de Janeiro - 2017

19 de fevereiro de 2017, último dia de apresentação da peça "Antígona". Escolho um assento na primeira fileira do Poeirinha, anexo do Teatro Poeira, para assistir bem de perto a mais um trabalho daquela que, para mim - e sem o menor receio de estar sendo exagerada - , é uma das maiores atrizes vivas do planeta: Andréa Beltrão.  

Quem está acostumado a ver Andréa apenas na TV não tem a menor ideia da dimensão que esta mulher alcança enquanto atriz, sua capacidade de atuar sobre as mais diversas personagens, atingindo, em cada uma delas, suas zonas mais sutis, nuances, filigranas, contradições. O que Andréa oferece é uma arte vital, instintiva, animal, farejadora, fisicamente forte, poderosa, e, ao mesmo tempo, milimetricamente controlada, consciente do que quer dizer, por que dizer, como dizer, para quem dizer. Impressionante a facilidade com que ela transita de uma emoção à outra, de uma intenção à outra, de uma circunstância à outra, e ainda se dando ao luxo de improvisar interferências junto à plateia, ora verbalmente ora apenas com um olhar de inesperada cumplicidade com o que está fora da cena, que é justamente o que a justifica. GRANDE, LINDA e GENEROSA ANDRÉA BELTRÃO !!!   

Mas tudo isso não se constrói da noite para o dia, nem tampouco sozinhx. Há uma longa trajetória de trabalhos e trocas com colegas, diretorxs e técnicxs, de escolhas e não escolhas, que sustenta e dá sentido a este resultado. 
Por trás da "Antígona" de Andréa há, sem dúvida, o olhar malandramente perspicaz, ilimitado, libertário e absolutamente teatral de Amir Haddad, nosso 'Platão da Lapa'. 

 Amir Haddad

Amir traz para a cena contemporânea, não a tragédia de Sófocles, mas a tragicidade dos nossos tempos, traduzindo, para o público de hoje, os significantes e significados do mito clássico. A direção de Amir e sua adaptação, em parceria com a própria Andréa Beltrão, desmitifica o mito sem tirar-lhe o mistério, acrescentando indagações. Uma pérola!!!!!!!

Pena eu não ter visto antes, para recomendar com maior ênfase que não perdessem a oportunidade de vivenciar mais esse momento de excelência do teatro carioca. 

A boa notícia é que parece que uma nova temporada começará em abril, desta vez no Teatro Imperator, no Méier, coração da Zona Norte do Rio de Janeiro.
Vale mais do que a pena!!!!!!!!!!!!!
(Cecilia Rangel - 20 de fevereiro de 2017)  
 

Comentários

  1. Gosto demais dela. Obrigada pela análise.

    ResponderExcluir
  2. Muito bom seu clog. Parabéns! Adorei o "Platão da Lapa"...!É isso mesmo!

    ResponderExcluir
  3. Obrigada pela sua participação, Ida! Sua frequência neste espaço será sempre muito bem-vinda!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A CANDIDATURA

"Eu vou aproveitar que vocês estão aí à toa mesmo, não estão fazendo nada, e vou lançar a minha candidatura. Eu sou candidato, embora não pareça. Muitos já começaram em piores condições, e acabaram deixando o país em piores condições.  Meus e minhas, senhores e senhoras, meu partido é o PSJ, Partido Sem Juscelino.  Tão assombregético e camalioso que vem milatinar nas congitivas abserviácias para conscrucar a crisocilácea dos acarinídeos incubercitosos. E com que sastifação manifesto a sermenêutica na pretuberância das efervecências securitárias que catilinam as mesocerbáceas (!!!) para enoblefar a dianocésia purificosa das lotarinosas. Qüem? Qüem - e disse-o bem - qüem... Qüem de vozes poderá nos aquilongar a passagem himênica da periferia básica para estruturar o caldeamento dos equiloláceos esburifinosos?  Não... !!! Não me entenderão aqüeles qüi selvaminarem nas hepúrbias violáceas clínicas, para conseguirem o qüê?  O qüê, pergunto eu, e ...

HOMENS QUE ESCREVEM PROVOCANDO

MÁRIO QUINTANA "Todos estes que aí estão atravancando o meu caminho, Eles passarão  Eu passarinho."  PABLO NERUDA "Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto, entre as duas coisas você coloca ideias."  TRADUZIR-SE "Uma parte de mim é todo mundo; outra parte é ninguém; fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão; outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa e pondera; outra parte delira. Uma parte de mim almoça e janta; outra parte  se espanta. Uma parte de mim é permanente; outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem; outra parte, linguagem. Traduzir uma parte na outra parte  - que é uma questão de vida e morte - será arte?" FERREIRA GULLAR ISADORA DUNCAN "E bate louco, bate criminosamente, coração mais do que a mente, bate o pé mais do que o corpo poderia. E se você mentaliz...

MEMÓRIAS DO TEATRO BRASILEIRO - HAM-LET de Zé Celso Martinez Corrêa

HAMLET - montagem do Oficina Uzyna Uzona; direção: Zé Celso Martinez Corrêa       Depois de uma temporada de um ano em São Paulo, em agosto de 1994, a Companhia de Teatro Oficina Uzyna Uzona trouxe para o Rio de Janeiro a incrível HAM-LET, dirigida por seu líder José Celso Martinez Corrêa.      Para a montagem carioca, o cenógrafo Hélio Eichbauer, utilizando-se da arquitetura do pátio interno do casarão que abriga a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, concebeu o espaço cênico no qual a dramaturgia elisabetana do século XVI ganhou expressão na concepção de Zé Celso para a obra de Shakespeare, na última década do século XX.      A temporada carioca ofereceu apenas oito apresentações, que duravam cinco horas e meia, incluindo três intervalos, de quinze minutos cada. Na noite de estreia, o espetáculo terminou às 2:40hs do dia seguinte, e quase totalmente às escuras, pois, lá pelas tantas, a luz do palco entrou em pane.    ...