A juíza Andréa Pachá, mulher a quem respeito e admiro fervorozamente, postou em sua página do facebook o seguinte texto do meu também querido e saudoso dramaturgo Alcione Araújo:
"Acolhida a
idéia, aos 16 anos de idade, delinqüentes já poderiam ser condenados.
Sem querer aliviar a responsabilidade de criminosos, pergunto se
crianças que crescem sem família, sem escola, sem emprego e sem
assistência social têm noção do que seja certo e errado, justo e
injusto, se à volta a violência é rotineira. Cadáveres são parte do seu
trajeto, roubos são parte da sua diversão, drogas são parte da sua
aventura, armas são parte da sua emoção, miséria e abandono são parte do
seu cenário, fome e doença são parte do seu cotidiano, crime e morte
são parte do seu futuro. Por que chocar-se com a violência? Como
espantar-se com o assassinato? Da espantosa promiscuidade, sem
referências nem valores, restam cinismo e frieza. Para esses pequenos
assassinos, o Estado, que se resume à polícia e ao juiz, só surge nas
suas vidas para apontar o crime e lavrar a pena.
Não tem sido diferente com jovens de classe média e alta. Também eles e elas ficam pasmos ao se defrontarem com a gravidade dos próprios atos. Aqui, o Estado não é o único responsável. A falta de referências ou modelos deixa parte da juventude patinando às cegas. Impor-lhes o braço duro da polícia e a crueldade do Judiciário é estimular um à barbárie, o outro ao genocídio. Conscientes desse quadro social, poderão os magistrados aplicar a letra fria da lei, como se houvesse eqüidade e equanimidade, como se esses pequenos homens e essas pequenas mulheres fossem nossos iguais perante a lei?
Em 30 anos, teremos cadeias entupidas com hordas de adolescentes que se somarão às hordas de pessoas adultas. E, ainda assim, sairemos das grades que cercam nossas casas para os carros blindados que nos levarão para trás das grades que cercam nossos empregos. E não teremos entendido que estamos diante de um fenômeno sobre o qual é preciso se debruçar sem paixões nem ressentimentos, sem assistencialismos nem demagogia. Precisamos entender que leis não podem ser feitas com espírito de vingança, nem repressão é o melhor antídoto apenas porque está à mão e já acumulamos vasta e tétrica experiência. Esse tipo de facilidade e experiência é mais vício que virtude. Precisamos de medicamentos novos, de estudos e ciências, para tratar uma peste nova e progressiva que afeta toda a sociedade."
Não tem sido diferente com jovens de classe média e alta. Também eles e elas ficam pasmos ao se defrontarem com a gravidade dos próprios atos. Aqui, o Estado não é o único responsável. A falta de referências ou modelos deixa parte da juventude patinando às cegas. Impor-lhes o braço duro da polícia e a crueldade do Judiciário é estimular um à barbárie, o outro ao genocídio. Conscientes desse quadro social, poderão os magistrados aplicar a letra fria da lei, como se houvesse eqüidade e equanimidade, como se esses pequenos homens e essas pequenas mulheres fossem nossos iguais perante a lei?
Em 30 anos, teremos cadeias entupidas com hordas de adolescentes que se somarão às hordas de pessoas adultas. E, ainda assim, sairemos das grades que cercam nossas casas para os carros blindados que nos levarão para trás das grades que cercam nossos empregos. E não teremos entendido que estamos diante de um fenômeno sobre o qual é preciso se debruçar sem paixões nem ressentimentos, sem assistencialismos nem demagogia. Precisamos entender que leis não podem ser feitas com espírito de vingança, nem repressão é o melhor antídoto apenas porque está à mão e já acumulamos vasta e tétrica experiência. Esse tipo de facilidade e experiência é mais vício que virtude. Precisamos de medicamentos novos, de estudos e ciências, para tratar uma peste nova e progressiva que afeta toda a sociedade."
(Alcione Araújo - 1945 a 2012)
Tudo
o que o Alcione Araújo coloca no texto acima é fato. Agora, o
que fazer para estancar o gérmen reprodutor deste fato? Qual o agente
definitivamente transformador deste fato? Por que os os integrantes da
chamada sociedade têm tanto medo de
agir diretamente no âmago deste fato? Medo de perder o quê? Medo de
perder aquilo que produz e reproduz a matéria-prima sustentadora dos
seus próprios delitos e pequenas corrupções "normais", "aceitáveis" e
"necessárias" à continuidade dos seus inúteis interesses?
Por acaso, alguém tem a ilusão de que vive em uma sociedade saudável, que atende às reais necessidades humanas em qualquer de suas instâncias?
Falando sério, o costume às reclamaçôes, tão condoídas quanto preconceituosas, e a falta de coragem de fazer algo que efetivamente transforme a nossa condição de vida resultam da mesma miséria que consome a fome de uns e a ira de outros, e que alimenta a existência viciada, pobre de sentido, que segue em frente indelével na crença dos mal e bem vestidos.
Estou relamente cansada dessa hipocrisia nossa de cada dia!!!
Cecilia Rangel
Comentários
Postar um comentário