Quem nunca passou pela seguinte situação: acorda pela manhã, bem-humorado, renovado pelo sono, com aquela intuição de que o dia será ótimo, toma café, sai de casa, repara como o dia está lindo, nota que a árvore pela qual passa diariamente floriu, acha todas as pessoas mais bonitas; aí chega no trabalho distribuindo simpatia, mas, de repente, um recado da secretária, uma ordem do chefe, ou um e-mail com uma resposta negativa, acaba com a sua alegria? Daí em diante o estômago dói, a azia se manifesta, a cabeça lateja, vem a impaciência, a raiva... E o dia, que era tão promissor, torna-se péssimo.
Como pode, em um minuto, tamanha mudança? Será que saí sem rezar? Será que foi por que não vesti aquela "camisa da sorte”? – ou pior! – terá sido mandinga, olho gordo, maldição?
Chih-i, erudito-budista, chinês, conhecido como Tient'ai, baseado nos escritos de Sakyamuni (Siddhartha Gautama) no Sutra de Lótus, formulou o princípio de "Itinen Sanzen" (três mil mundos em um único momento de Vida), no qual estabelece, dentre outras coisas, que a cada instante de uma única entidade humana dez estados subjetivos de sua natureza estão prontos a se manifestar, simultânea e aleatoriamente, podendo levar o indivíduo do "céu" ao "inferno" em sua experiência diária. São os Dez Estados de Vida. Isto quer dizer que, potencialmente, no exato momento em que está lendo esse texto, você pode experimentar tanto a alegria máxima como a pior das angústias, vulneráveis que somos aos fatores externos...
Como pode, em um minuto, tamanha mudança? Será que saí sem rezar? Será que foi por que não vesti aquela "camisa da sorte”? – ou pior! – terá sido mandinga, olho gordo, maldição?
Chih-i, erudito-budista, chinês, conhecido como Tient'ai, baseado nos escritos de Sakyamuni (Siddhartha Gautama) no Sutra de Lótus, formulou o princípio de "Itinen Sanzen" (três mil mundos em um único momento de Vida), no qual estabelece, dentre outras coisas, que a cada instante de uma única entidade humana dez estados subjetivos de sua natureza estão prontos a se manifestar, simultânea e aleatoriamente, podendo levar o indivíduo do "céu" ao "inferno" em sua experiência diária. São os Dez Estados de Vida. Isto quer dizer que, potencialmente, no exato momento em que está lendo esse texto, você pode experimentar tanto a alegria máxima como a pior das angústias, vulneráveis que somos aos fatores externos...
Digamos que cada instante de vida seja como um caroço de jaca. O caroço em si ainda não é uma jaqueira, mas tem toda a potencialidade do mundo para ser. E qual o segredo para fazer desta semente de jaca uma frondosa jaqueira? A resposta é simples (e por isso mesmo difícil de pôr em prática): cultivar.
Cultivar é algo que depende de empenho, vigília constante, energia e, o mais chato de tudo, dar tempo ao tempo. Ou alguém conhece uma jaqueira que vai de semente à árvore de um dia para o outro?
Para que pudéssemos compreender a dinâmica dos Estados de Vida na natureza humana, Tient'ai criou, didaticamente, uma forma de ordená-los, afirmando, ainda, que cada um deles contém, além de si, os outros nove, simultaneamente, o que resulta em cem possibilidades deles interferirem no nosso comportamento e, por conseguinte, nos nossos objetivos de Vida, a cada instante.
A ideia de Tient'ai parece complicada. E é, em um primeiro momento, mas vamos tentar explicar: mesmo quando aparentemente está tudo bem, seu inferno interior está ali, de forma latente, esperando uma oportunidade de se manifestar. Infelizmente - ou felizmente, sabe-se lá! – a possibilidade do "inferno" se manifestar é relativamente mais fácil porque nos acostumamos a ele. A possibilidade de sentir-mo-nos no "céu" é mais difícil porque nos exige o cultivo de uma outra maneira de pensar, de falar, de agir e, portanto, de existir.
Os Dez Estado de Vida dividem-se didaticamente em três grupos: os 4 inferiores, os 2 intermediários e os 4 superiores.
Os Estados Inferiores, ou Os Quatro Maus Caminhos, são:
Inferno (Jigoku) – Estado de absoluta impotência e sofrimento constante, em que a pessoa sente-se sem forças para compreender e interferir em suas circunstâncias de Vida, muito menos esperanças em relação ao futuro. É como se estivesse em um barco à deriva, esperando que alguém assuma o leme e saiba comandá-lo.
Inferno (Jigoku) – Estado de absoluta impotência e sofrimento constante, em que a pessoa sente-se sem forças para compreender e interferir em suas circunstâncias de Vida, muito menos esperanças em relação ao futuro. É como se estivesse em um barco à deriva, esperando que alguém assuma o leme e saiba comandá-lo.
Fome (Gaki) – Estado caracterizado pela insaciedade dos desejos derivada da incapacidade de satisfazê-los. A pessoa “faminta” é dominada pela frustração; nada a satisfaz por mais que a Vida lhe ofereça, porque ela não reconhece o que vem para ela. Ela quer o que não pode ter; a partir do momento que tem, não quer mais, desinteressa-se, voltando a ficar frustrada. A obesidade pode estar relacionada a este Estado de Vida, mas não exclusivamente, qualquer forma de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) é uma forma de manifestação do Estado de Fome, assim como as dependências química e emocional, relacionadas com o dinheiro, sexo, álcool, drogas, status, e por aí vai...
Animalidade (Tikusho) – Estado em que o indivíduo é movido por seu instinto animal (e não estamos falando do seu cachorrinho fofinho que acabou de voltar perfumadíssimo da pet shop!). Sob este estado o indivíduo é destituído de sua capacidade de raciocínio, não consegue refletir, tornando-se agressivo, violento, antiético, amoral; quando muito, um déspota com os mais fracos e bajulador dos mais fortes, disposto a qualquer manobra que possa alçá-lo socialmente – um devoto dos bens materiais, persdeguidor de status.
Ira (Shura) – Sob este estado o indivíduo tem consciência de seus atos e, respaldado pela crença de que está com a verdade, cheio de razão, estabelece seu próprio código de conduta, agindo contra tudo e todos que estejam em desacordo com o que ele tem como o certo. São os fundamentalistas, fanáticos religiosos e/ou ideológicos, homofóbicos, racistas, etc. Dominada por este estado, a pessoa torna-se destrutiva, invejosa e capaz de qualquer ato.
*Encontramos, agora, uma zona perigosa, porque nos é de grande conforto e prazer, são os Estados Intermediários:
Tranquilidade (Nin) – O Estado de Tranquilidade evidencia-se geralmente no momento em que o indivíduo, após algum esforço, conquista algo que lhe traz segurança. A falsa impressão de quê o que foi conquistado é para sempre, e nada mais é preciso fazer, desprepara a pessoa para os novos desafios, que inevitavelmente surgirão e, à menor ameaça de perdas ou danos, por frustração, raiva, insgurança, ele cai novamente nos Quatro Maus Caminhos. O Estado de Tranquilidade dá margem à preguiça, à passividade, à comodidade e ao conformismo, condições que impedem o crescimento. Curiosamente, a tranquilidade é um dos Estados de Vida mais almejados, sendo por alguns apontado como Estado de Humanidade.
- Sonhamos com a mediocridade?
Alegria (Ten) – O Estado de Alegria é aquele que costuma-se confundir com a felicidade. Geralmente esperimentado através da conquista de bens materiais e/ou status. É um Estado de Vida induzido, interna ou externamente, e essencialmente efêmero, com prazo de validade. Dura o tempo da euforia e rapidamente desaparece. É claramente perceptível na criança que acaba de ganhar um brinquedo e toma-se de entusiasmo, mas que um tempo depois o deixa de lado. Encontra-se também no efeito das drogas, do álcool e similares. Porém, o “vazio” que sucede o Estado de Alegria leva facilmente o indíviduo de volta aos Quatro Maus Caminhos.
Chegamos, então, aos Quatro Nobres Caminhos, que podem levar o Ser Humano a uma plenitude de Vida. São eles:
Erudição (Shomon) – O Estado de Erudição se desenvolve na busca do indivíduo pela auto-reforma e crescimento pessoal, decidido a tomar ciência para expandir a consciência. De forma concreta, o Shomon resulta na dedicação da pessoa em capacitar-se, através do conhecimento, para a criação de uma Vida melhor, com o aprendizado das ideias e experiências de seus predecessores e contemporâneos. É o primeiro passo na direção de uma condição de Vida mais elevada, mas, por si só, não é o suficiente para que se chegue lá. Regido por este estado, o sujeito tende a estabelecer uma relação de dependência com seus mestres. É preciso ir adiante, predispondo-se ao próximo passo, que é:
Absorção (Engaku) – Estado de Vida consequente ao anterior e, naturalmente, semelhante a ele, uma vez que ambos indicam empenho pela auto-reforma. O que distingue o Estado de Erudição do Estado de Absorção é que este emerge da vontade do indivíduo em desenvolver o seu próprio pensamento, indo além do aprendizado com os seus predecessores. O que não quer dizer que a relação mestre-discípulo seja rompida, mas tão somente que o sujeito deixa de ser um mero receptor para assumir a responsabilidade de também gerar conhecimento, desenvolvendo ciência, tornando-se. assim, agente ativo no processo de transformação da espécie humana, o que tende a levá-lo ao próximo estado, que é:
Absorção (Engaku) – Estado de Vida consequente ao anterior e, naturalmente, semelhante a ele, uma vez que ambos indicam empenho pela auto-reforma. O que distingue o Estado de Erudição do Estado de Absorção é que este emerge da vontade do indivíduo em desenvolver o seu próprio pensamento, indo além do aprendizado com os seus predecessores. O que não quer dizer que a relação mestre-discípulo seja rompida, mas tão somente que o sujeito deixa de ser um mero receptor para assumir a responsabilidade de também gerar conhecimento, desenvolvendo ciência, tornando-se. assim, agente ativo no processo de transformação da espécie humana, o que tende a levá-lo ao próximo estado, que é:
Bodhisattva – O Estado de Bodhisattva é aquele que acorda o indivíduo para o exercício da benevolência; motivando-o a compartilhar provisões, ideias, sentimentos, criações. O ser em Estado de Bodhisattva é aquele que, tendo alcançado a Individuação, através da Erudição e Absorção, exime-se do individualismo, dedicando-se à Vida em comum, e encontrando nisso o verdadeiro sentido da felicidade.
A partir daí o ser humano pode enfim usufruir de toda a sua potencialidade, chegando ao último dos Estados de Vida...
A partir daí o ser humano pode enfim usufruir de toda a sua potencialidade, chegando ao último dos Estados de Vida...
O Estado de Buda – O Estado de Buda é um dom da natureza essencial comum a tudo e a todos no Universo, e do qual nos afastamos, paulatinamente, à medida em que crescemos e nos adequamos à cultura a qual pertencemos. O Estado de Buda é o despertar da nossa consciência para a sabedoria que nos liberta do sofrimento, e nos torna responsáveis pelo nosso próprio destino; é o único dos Estados de Vida que nos capacita iluminar os outros nove, até mesmo os Quatro Maus Caminhos, porque, imbuídos de sabedoria, já não somos dominados por eles, e sim os dominamos. Por isso, mesmo sendo inerente a tudo o que existe, somente o ser humano pode manifestá-lo.
A análise profunda dos Dez Estados de Vida e o princípio do Itinen Sanzen (sobre o qual falaremos depois) desenvolvidos por Tient'ai foram a base do Budismo praticado nos chamados 'Médios Dias da Lei'. Porém, foi somente no Sec. XIII da nossa Era, que Nitiren Daishonin, filósofo budista, de origem japonesa, revelou o verdadeiro caminho para o ser humano reencontrar sua natureza essencial e manifestar seu Estado de Buda: a recitação do mantra Nam-Myoho-Renge-Kyo, encontrado no Sutra de Lótus, último e definitivo Livro dos escritos de Sakyamuni.
Nitiren Daishonin
Convicto dos fundamentos que o levaram a esta revelação, Nitiren origina o que passa a ser reconhecido como Budismo dos Últimos Dias da Lei, que seriam os dias atuais, quando o desenvolvimento das ciências e a necessidade de nos voltarmos para um real sentimento de humanidade nos fariam ir de encontro a uma verdadeira revolução na forma de estarmos no mundo.
OBS.: ESTE TEXTO NÃO TEM INTENÇÕES DOUTRINÁRIAS, É APENAS UM ESCLARECIMENTO SOBRE O ASSUNTO, QUE EVENTUALMENTE É DIVULGADO DE FORMA INCORRETA.
Cecilia Rangel
(27 de novembro de 2011)
Cecilia,
ResponderExcluirImportante reflexão faz esse seu texto sobre o pensamento filosófico dessa gente sublime asiática cuja sabedoria abre-se um leque de largo espectro. Há que ter conhecimento para nos aprofundarmos com esse universo e com ele "implantar" um formato mais especial e benéfico em nossa vida.
Esse é pra guardar...
bjss e admiração
Que texto bem escrito! Dá gosto de ler!
ResponderExcluirObrigada à Sonia e ao Alexandre pelos comentários!
ResponderExcluirQuerida reli o texto com mais atenção. Muito bacana. Alguns desses estados são bastante frequentes em mim, até duradouros. Mas alguns outros são tão raros e efêmeros que chego a achar que nunca os experimentei em sua plenitude.
ResponderExcluirBeijão!