Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2009

APENAS UM CONTO DE AMOR

TORTA DE FRAMBOESA  Dona Jota era uma velhinha que morava sozinha em um sobrado de Santa Teresa, bairro histórico do Rio de Janeiro. Solteira, lépida e fagueira, dona Jota distribuía simpatia pelas cercanias de sua casa, onde além dela habitavam trinta gatos, um casal de cachorros vira-latas e um papagaio que atendia pelo nome de Rocha.  Exatamente às seis e trinta da manhã, obedecendo a um ritual pontual e infalível, despedia-se da bicharada ao portão e punha-se a caminhar até a padaria, com Rocha sobre seu ombro esquerdo. Rocha tinha uma peculiaridade enquanto ave falante: sabia declamar inteirinho "Amor e Medo" de Casimiro de Abreu, poema que outrora fora sussurrado ao ouvido de sua protetora pelo galante alfaiate Zequinha Alfinete, primeiro e único amor da vida dela.  "Quando eu te fujo e me desvio cauto da luz de fogo que te cerca, oh! bela, contigo dizes, suspirando amores: _ Meu Deus! Que gelo, que frieza aquel...

HOMENS QUE ESCREVEM PROVOCANDO

MÁRIO QUINTANA "Todos estes que aí estão atravancando o meu caminho, Eles passarão  Eu passarinho."  PABLO NERUDA "Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto, entre as duas coisas você coloca ideias."  TRADUZIR-SE "Uma parte de mim é todo mundo; outra parte é ninguém; fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão; outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa e pondera; outra parte delira. Uma parte de mim almoça e janta; outra parte  se espanta. Uma parte de mim é permanente; outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem; outra parte, linguagem. Traduzir uma parte na outra parte  - que é uma questão de vida e morte - será arte?" FERREIRA GULLAR ISADORA DUNCAN "E bate louco, bate criminosamente, coração mais do que a mente, bate o pé mais do que o corpo poderia. E se você mentaliz...

MULHERES QUE PROVOCAM ESCREVENDO

VIDA ATELIÊ ELISA LUCINDA "Pouca gente se dá conta, mas estamos preparando sem pensar e aos poucos, sem saber e sempre, a nossa máscara da velhice. Estamos durante a vida, desde meninos, esculpindo talhe a talhe a fôrma da escultura na qual teremos resultado. Estamos preparando a mostra, a vernissage do nosso rosto definitivo. Seremos no desfecho a cara com as linhas da coroa e vice-versa. Nosso avesso lá estará no hidrográfico bordado dos rios do riso e dos rios do sofrimento. Quero no meu rosto o bom retrato falado de cada vão momento, na cama com o amor, na mesa com os filhos, no bar com os amigos, na noite sobre o travesseiro de macela, nas festas com os cúmplices de caminho, nas decisões sensatas de trabalho. Tudo isso nosso rosto fotografa. Eu quero nele estas fotografias. Seremos nosso porta-retrato. E já estamos portando essa tela. Nela estará certamente uma verdade anterior: a superestimação dos bisturis periféricos da va...