TORTA DE FRAMBOESA Dona Jota era uma velhinha que morava sozinha em um sobrado de Santa Teresa, bairro histórico do Rio de Janeiro. Solteira, lépida e fagueira, dona Jota distribuía simpatia pelas cercanias de sua casa, onde além dela habitavam trinta gatos, um casal de cachorros vira-latas e um papagaio que atendia pelo nome de Rocha. Exatamente às seis e trinta da manhã, obedecendo a um ritual pontual e infalível, despedia-se da bicharada ao portão e punha-se a caminhar até a padaria, com Rocha sobre seu ombro esquerdo. Rocha tinha uma peculiaridade enquanto ave falante: sabia declamar inteirinho "Amor e Medo" de Casimiro de Abreu, poema que outrora fora sussurrado ao ouvido de sua protetora pelo galante alfaiate Zequinha Alfinete, primeiro e único amor da vida dela. "Quando eu te fujo e me desvio cauto da luz de fogo que te cerca, oh! bela, contigo dizes, suspirando amores: _ Meu Deus! Que gelo, que frieza aquel...
Eu falus, tu falas, ele fala, nós filos-of-amos, vós filos-of-ais!, eles filos-of-am I?